DA RUA PARA A WEB


Sites em que são tratados dados sociais de forma informativa ou como denúncia. Geralmente, como é característico das obras virtuais, o público participa ajudando a alimentar o site de informação, caso tenha dados do tema em questão. É uma particularidade nesses trabalhos se constituirem como redes de informação e trocas de dados entre os internautas. O conteúdo migra da rua para e rede.






Imagine um projeto cultural elaborado por 12 motoboys de São Paulo com o apoio do Centro Cultural São Paulo, Prefeitura de São Paulo, pela Embaixada Espanhola no Brasil, pelo governo espanhol, faculdades FAAP, Telecentro, pelo Prêmio Orilaxé.
Esta é a ideia de Antoni Abad, artista catalão, responsável por Zexe.net. O artista pensa que é possível e válido utilizarmos recursos artísticos em nome de uma produção cultural voltada para questões sociais, sendo ainda um projeto artístico e não um projeto estritamente social. Diz Abad, em entrevista para o site Wi Journal, “O patrocínio que começa a partir do mundo da arte se limita à exposição. No final o que eu estou fazendo está tomando recursos do mundo da arte e trazê-los para outro campo que é mais social e parece que a arte, mas é um truque.”


O que é Zexe.net?

O site programado por Antoni Abad e uma equipe, em 2003, abriga 12 canais de distintos grupos sociais espalhados pelo mundo. São ciganos na Espanha, taxistas mexicanos, prostitutas em Madri, motoboys em São Paulo, imigrantes nicaraguenses na Costa Rica, deficientes com cadeiras de rodas na Espanha, imigrantes nicaraguenses na Costa Rica, imigrantes em Nova Yorque.
O artista escolhe grupos distintos da sociedade que caracterizam-se por estarem à margem, que estão estigmatizados pelo censo comum de forma negativa. O projeto funciona como uma mídia alternativa, na qual as pessoas, pertencentes à esses grupos podem expressar e documentar seu ponto de vista sobre si mesmas e sobre o mundo. Como Abad destacou em entrevista para Rising Voices, um dos taxistas mexicanos, em uma das reuniões do grupo comentou que esta era a primeira oportunidade que teve, depois de 12 horas atrás do volantes, de lembrar-se de que ele possuía imaginação.

Como é possível o projeto acontecer? A ideia do autor foi aproveitar o desenvolvimento das tecnologias móveis, também chamadas locativas. O projeto então se dá da seguinte forma, o artista, juntamente com uma equipe, que pode variar dependendo do lugar onde vai se dar o trabalho, reúne um grupo distinto dentro de uma cidade específica e apresenta o projeto. Posteriormente são distribuídos telefones celulares com câmeras e acesso à internet e feitas reuniões sobre as ideias do grupo e para os participantes aprenderem a lidar com máquinas. Também foi programado um software específico para a postagem e edição das imagens e informações a serem publicadas no site. Cada grupo possui seu canal dentro de Zexe.net, onde tem acesso para publicação de seu conteúdo. O projeto tem a duração de aproximadamente dois meses com cada comunidade, posteriormente cada grupo pode seguir reunido e dando prosseguimento ao trabalho. No entanto, é neste momento em que o projeto se desamarra do campo artístico, em alguma medida, e passa a ter um resultado na sociedade.



Os motoboys em São Paulo

Antoni Abad teve sua primeira ideia sobre Zexe, ou Megafone, em São Paulo, quando soube como eram vistos os motoboys pela população em geral. Naquele momento não foi possível viabilizar o projeto e, por isso, acabou iniciando a ideia em outras partes do mundo, com outros grupos marginalizados. Em 2007, a ideia pôde ser concretizada. Foram reunidos 12 motoboys, que produziram muito material para o site e que até hoje o estão alimentando.
O grupo dos motoboys, assim como o dos taxistas mexicanos e deficientes/cadeirantes, puderam seguir com o trabalho de mídia alternativa, por assim dizer, e mais que isso, ampliou sua rede de ações em nome de seu grupo social. Os motoboys, em São Paulo, organizaram o site Cultura Motoboy - onde é possível se comprar o livro sobre o Canal Motoboy, organizado por Heloisa Buarque de Hollanda - e promovem atividades culturais relacionadas ao seu cotidiano, com o apoio de instituições e do próprio governo brasileiro.
Um dos eventos é a Semana da Cultura Motoboy, que homenageia o projeto de Abad, acontecendo na data em que foi iniciado o projeto do Canal Motoboy. Também inverteram "a ordem comum das coisas" e foram tema de matéria na Folha de São Paulo com seus projetos culturais e sua produção na internet.



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